Politrauma: Condutas Essenciais da Enfermagem no Atendimento Inicial ao Paciente Grave


O atendimento ao paciente politraumatizado é uma das situações mais desafiadoras na área de urgência e emergência. Em poucos minutos, a equipe de enfermagem precisa avaliar, estabilizar e agir com precisão para garantir a sobrevivência da vítima.
Um simples erro ou atraso pode custar a vida do paciente — por isso, o conhecimento técnico e a agilidade são as principais armas do enfermeiro nesse cenário.
O Que é Politrauma?
Chamamos de politraumatizado o paciente que apresenta duas ou mais lesões graves em diferentes regiões do corpo, geralmente causadas por acidentes de trânsito, quedas de altura, ferimentos por arma de fogo ou esmagamentos.
Esses traumas afetam, na maioria das vezes, órgãos vitais como cérebro, pulmões, coração e rins, exigindo atendimento rápido e sistematizado.
➡️ Exemplo prático: um motociclista envolvido em colisão pode chegar inconsciente, com suspeita de trauma craniano, fratura de fêmur e sangramento abdominal. Cada segundo é determinante para reduzir sequelas e aumentar as chances de sobrevivência.
A Importância do Atendimento Inicial
O atendimento pré-hospitalar e hospitalar inicial segue protocolos internacionais, como o ATLS (Advanced Trauma Life Support), que prioriza a avaliação rápida das funções vitais.
Nesse contexto, o enfermeiro é responsável por identificar riscos imediatos à vida, iniciar medidas de suporte e coordenar a equipe técnica.
O atendimento deve seguir a sequência do ABCDE do trauma:
A – Airway (via aérea com controle da coluna cervical);
B – Breathing (respiração e ventilação);
C – Circulation (circulação e controle de hemorragias);
D – Disability (avaliação neurológica);
E – Exposure (exposição completa e controle de temperatura).
Ações Prioritárias da Enfermagem no Politrauma
A atuação do enfermeiro deve ser rápida, organizada e fundamentada em protocolos. Veja as principais condutas:
Garantir a segurança da cena antes de iniciar o atendimento;
Avaliar via aérea e ventilação; se necessário, preparar material para intubação;
Controlar hemorragias externas com compressão direta e curativos oclusivos;
Monitorar sinais vitais continuamente;
Estabelecer acesso venoso calibroso e iniciar reposição volêmica conforme prescrição;
Auxiliar na imobilização de fraturas e manter alinhamento corporal;
Aplicar o protocolo de Glasgow para avaliação neurológica;
Registrar todas as condutas e horários das intervenções realizadas.
💡 Dica prática: sempre que possível, mantenha o paciente aquecido, pois a hipotermia é comum em casos de trauma grave e agrava o choque hipovolêmico.
Comunicação e Trabalho em Equipe
A enfermagem atua como elo central entre equipe médica, técnicos e socorristas. Uma comunicação clara, objetiva e contínua reduz erros e melhora a tomada de decisão.
O enfermeiro deve repassar informações essenciais como: mecanismo do trauma, tempo do acidente, lesões observadas e condutas já realizadas.
Essa troca rápida permite que o atendimento seja contínuo e eficiente, tanto no ambiente pré-hospitalar quanto dentro do pronto-socorro.
Cuidados com o Estado Emocional do Paciente e Família
Em situações de politrauma, o ambiente é tenso e caótico. O enfermeiro também deve ter sensibilidade para lidar com o sofrimento e o medo do paciente e dos familiares.
Explicar, com calma e clareza, os procedimentos realizados ajuda a reduzir o pânico e fortalece o vínculo de confiança entre equipe e usuário.
➡️ Exemplo realista: ao atender uma vítima consciente com múltiplas fraturas, o enfermeiro pode dizer:
“Você está seguro agora, estamos controlando seu sangramento e cuidando da sua respiração. Vamos levá-lo para exames, e tudo está sob controle.”
Essas palavras, embora simples, têm grande impacto emocional no paciente.
Conclusão
O atendimento ao paciente politraumatizado exige conhecimento técnico, sangue frio e empatia.
O enfermeiro deve estar preparado para identificar rapidamente as prioridades, aplicar protocolos internacionais e coordenar ações que salvam vidas.
A capacitação contínua, o treinamento em simulações e a atualização sobre novas diretrizes são essenciais para garantir uma assistência segura e eficaz.
Referências
American College of Surgeons. Advanced Trauma Life Support (ATLS) Student Course Manual, 10th edition, 2020.
Ministério da Saúde. Protocolo Nacional de Atendimento ao Politraumatizado, Brasília, 2023.
Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução nº 655/2020 – Atuação do Enfermeiro em Urgência e Emergência.
PHTLS. Prehospital Trauma Life Support – 9th Edition. National Association of Emergency Medical Technicians (NAEMT), 2022.
