De Abrigos Antigos a Grandes Complexos: A História Oculta dos Hospitais que Você Precisa Conhecer

A origem dos hospitais: muito antes dos grandes blocos de concreto

Quando pensamos em “hospital”, a imagem que vem à mente é normalmente a de um prédio moderno, com UTIs, leitos, corredores e aparelhos de última geração. Mas a história nos mostra que os “hospitais” começaram de forma bem diferente — eram espaços simples, de acolhimento, caridade e cuidado básico, sem os recursos tecnológicos que conhecemos hoje. Por exemplo, os relatos apontam que por volta de 431 a.C., no Ceilão (atual Sri Lanka), foram construídas instituições que tinham função semelhante à dos hospitais modernos. Dois séculos depois, o imperador Asoka, na Índia, instituiu cerca de dezoito desses locais para tratar pessoas doentes, o que demonstra que a ideia de um espaço dedicado ao cuidado — e não apenas à morte ou ao exílio — já existia bem antes da Idade Média.

A expansão europeia e o papel das ordens religiosas

Na Europa, o surgimento desses espaços acontece de forma mais visível no Império Romano, onde “valetudinaria” eram erguidos para cuidar de soldados feridos em batalhas, por volta de 100 a.C. Com o advento do cristianismo a partir do século IV, houve uma expansão notável dos hospitais, sobretudo em monastérios e instituições lideradas por religiosos. Esses locais contavam com um infirmitorium (sala de doentes), farmácia, jardim de plantas medicinais e acolhimento dos doentes, viajantes e pobres. A caridade e a assistência se uniram, e essa tradição religiosa foi determinante para o modelo hospitalar ocidental que conhecemos hoje.

O hospital no Brasil: raízes e evoluções

Aqui no Brasil colonial, os hospitais também chegaram como instrumentos de caridade e apoio social. Um dos primeiros exemplos foi a Santa Casa de Misericórdia de Olinda, inaugurada em 1540, ligada à Igreja de Nossa Senhora da Luz, para cuidar dos doentes e desamparados — embora não com os recursos que entendemos por “hospital” hoje. Já a mais antiga instituição que ainda funciona, a Santa Casa de Misericórdia de Santos, em São Paulo, foi erguida em 1543, demonstrando que o Brasil já tinha no século XVI espaços de cuidado organizado. Para o enfermeiro e estudante de enfermagem, conhecer essa evolução ajuda a entender por que muitos hospitais antigos têm arquitetura, nomenclatura ou setores que remetem à caridade — “misericórdias”, “irmandades” — e por que os valores de acolhimento ainda fazem parte da prática de enfermagem.

Da caridade ao cuidado tecnificado: transformações no modelo hospitalar

Durante séculos os hospitais foram locais de abrigo para doentes e pobres, muitas vezes dirigidos por ordens religiosas ou entidades de caridade. A mudança para um modelo de saúde mais técnico-científico ganha força com o Iluminismo, a Revolução Industrial e o avanço da medicina no século XIX. De locais de internação lenta e cuidados básicos, passam a ser centros de diagnóstico, cirurgia, intensivo e pesquisa. Isso significa que o enfermeiro de hoje está inserido em uma tradição que evoluiu do “acolher” para o “intervir com técnica” — um movimento que exige atualização constante. Estudos apontam que o hospital passou a ter funções como prevenção, cura, reabilitação, ensino e pesquisa.

Exemplos práticos para a Enfermagem: o que isso significa no hospital moderno

Imagine a unidade de enfermagem de um hospital com mais de 300 leitos. Parte da história institucional desse hospital pode se originar de uma antiga casa de caridade. A enfermagem trabalha com protocolos, tecnologias, monitoramento intenso, mas também com valores de acolhimento, humanização e cuidado integral — essa herança dos primeiros hospitais. Na prática, isso quer dizer que, ao fazer a recepção de um paciente, o enfermeiro está caminhando em duas direções ao mesmo tempo: a técnica (risco, diagnóstico, intervenção) e a acolhedora (escuta, conforto, presença). Conhecer a origem histórica reforça a legitimidade dessa dupla atuação e fortalece a motivação profissional.

Dicas para estudantes e profissionais de enfermagem
  • Aprenda sobre a história dos hospitais: entender de onde viemos ajuda a valorizar onde estamos e para onde vamos.

  • Valorize os valores humanitários: mesmo em meio à tecnologia, acolher é parte essencial da enfermagem.

  • Reconheça os “ecos” da história: muitas instituições mantêm nomes, arquiteturas ou setores que remetem à maternidade, enfermaria ou hospedaria — saber isso ajuda no entendimento institucional.

  • Participe de debates sobre o futuro dos hospitais modernos: humanização, logística, infraestrutura — todas evoluções daquilo que começou com simples espaços de caridade.

Conclusão

Os hospitais que conhecemos hoje são o resultado de uma longa evolução que começou há mais de dois milênios. De instituições rudimentares de acolhimento, passaram a ser centros altamente complexos de diagnóstico, tratamento e pesquisa. Para a enfermagem, essa história é mais do que curiosidade: é uma base de identidade profissional, um legado de cuidado que combina técnica, humanização e presença constante. Reconhecer esse passado fortalece a prática cotidiana e inspira a atuação futura.

Referências
  • Superinteressante. “Quando surgiram os hospitais?” Redação Mundo Estranho. Atualizado em 22 fev 2024.

  • Superinteressante. “Como surgiram os hospitais?” — edição de 21 jul 2009.

  • Martins, N. R. A. “Evolução da arquitetura e função dos estabelecimentos de saúde no Brasil.” Universidade de Brasília (UNB), 2021.