Curativos e Tratamento de Feridas: Guia Atualizado para Enfermagem

O cuidado com feridas é uma das atividades mais frequentes na rotina de profissionais de enfermagem, especialmente em unidades de atenção básica, hospitais e domicílios. Com o avanço da ciência, novas tecnologias e produtos passaram a fazer parte do arsenal terapêutico para promover uma cicatrização eficiente e livre de complicações.

Este guia completo aborda os principais tipos de feridas, as fases da cicatrização, as coberturas mais indicadas e o papel fundamental do enfermeiro em todas as etapas do cuidado.

O que é uma Ferida?

Ferida é qualquer ruptura na integridade da pele ou mucosas, podendo ter origem traumática (como cortes e queimaduras) ou patológica (como úlceras por pressão, feridas diabéticas ou venosas). O correto manejo desde o início é essencial para evitar infecções, promover a cicatrização adequada e aliviar o sofrimento do paciente.

Classificação das Feridas

As feridas podem ser classificadas de várias formas, mas as mais comuns são:

Quanto à origem:
  • Agudas: cicatrizam em tempo previsível e com menor risco de complicações (ex.: cirúrgicas, cortes).

  • Crônicas: têm cicatrização lenta, geralmente associadas a doenças de base (ex.: úlceras venosas, diabéticas, por pressão).

Quanto à profundidade:
  • Superficiais: atingem apenas a epiderme.

  • Parciais: atingem epiderme e derme.

  • Profundas: envolvem tecidos mais profundos, como músculos, tendões ou ossos.

Quanto à contaminação:
  • Limpas: sem sinais de infecção ou contaminação.

  • Colonizadas: com presença de bactérias, mas sem sinais clínicos de infecção.

  • Infectadas: com sinais evidentes de infecção como pus, odor fétido, calor local e dor intensa.

Fases da Cicatrização

A cicatrização é um processo biológico complexo, dividido em três fases:

  1. Fase Inflamatória (0 a 5 dias)
    Há vasodilatação, migração de leucócitos e formação de exsudato. O objetivo é conter microrganismos e iniciar o reparo.

  2. Fase Proliferativa (5 a 20 dias)
    Ocorre formação de tecido de granulação, angiogênese e reepitelização. A ferida começa a se fechar.

  3. Fase de Maturação ou Remodelação (21 dias a meses)
    O colágeno é reorganizado, e a resistência do tecido aumenta. A cicatriz se forma.

Tipos de Coberturas e Curativos

O tipo de curativo influencia diretamente na velocidade da cicatrização. A escolha deve considerar as características da ferida (exsudato, infecção, profundidade) e o conforto do paciente. Os principais tipos são:

  • Gaze e solução salina (soro fisiológico): usados em curativos simples, mas devem ser evitados em feridas crônicas ou com muito exsudato, pois ressecam o leito.

  • Hidrocoloides: ideais para feridas com pouco exsudato. Promovem ambiente úmido e estimulam a granulação.

  • Espumas (poliuretano): indicadas para feridas com exsudato moderado a alto. Oferecem proteção mecânica e absorção.

  • Alginato de cálcio: excelente absorvente, usado em feridas com exsudato abundante. Estimula hemostasia.

  • Hidrogel: ajuda na desbridamento de feridas secas e necróticas, mantendo o ambiente úmido.

  • Prata (curativos impregnados): utilizados em feridas infectadas ou com risco de infecção, devido ao efeito antimicrobiano.

  • Carvão ativado com prata: ideal para feridas com odor fétido, necrose e infecção.

  • Filmes transparentes: usados para proteção de feridas superficiais ou como cobertura secundária.

Papel do Enfermeiro

O enfermeiro é o profissional responsável pela avaliação da ferida, prescrição de cobertura (quando permitido pelo protocolo local), realização do curativo e educação do paciente.

As principais atribuições incluem:

  • Avaliar regularmente o aspecto da ferida (dimensões, profundidade, odor, cor, presença de exsudato e dor).

  • Registrar a evolução da ferida com fotos (quando autorizado) e anotações detalhadas.

  • Realizar ou indicar desbridamento quando necessário (autolítico, mecânico, enzimático ou cirúrgico).

  • Orientar o paciente e familiares sobre os cuidados domiciliares, higiene e sinais de alerta.

  • Prevenir recidivas, especialmente em úlceras por pressão e feridas diabéticas.

Cuidados Gerais com Curativos
  • Lavar as mãos antes e depois de cada curativo.

  • Usar luvas estéreis para manipulação da ferida.

  • Remover cuidadosamente o curativo anterior, observando sinais de infecção.

  • Limpar a ferida com soro fisiológico 0,9% (de preferência morno).

  • Evitar o uso rotineiro de antissépticos como PVPI e água oxigenada, pois podem retardar a cicatrização.

  • Escolher a cobertura adequada ao tipo e fase da ferida.

  • Cobrir totalmente a ferida e garantir fixação confortável.

  • Manter o ambiente limpo, ventilado e tranquilo durante o procedimento.

Dicas Práticas
  • Úlceras por pressão: mudar decúbito a cada 2 horas e usar colchões especiais.

  • Feridas diabéticas: controlar glicemia e evitar traumas nos pés.

  • Feridas infectadas: manter isolamento de contato e usar curativos com prata.

  • Feridas com exsudato alto: optar por espumas ou alginato.

Considerações Finais

O tratamento de feridas exige conhecimento técnico, atenção constante e individualização do cuidado. O enfermeiro tem papel central nesse processo, sendo responsável por avaliar, tratar, acompanhar e orientar o paciente ao longo da cicatrização.

A escolha correta da cobertura, o controle dos fatores sistêmicos (como diabetes) e o cuidado com a prevenção de lesões são pilares de um tratamento bem-sucedido. A atualização contínua dos profissionais de enfermagem é essencial para garantir uma assistência de qualidade e baseada em evidências.

Referências
  • Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Segurança no uso de coberturas para feridas.

  • Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resoluções e protocolos.

  • Borges, E. L. (2022). Tratamento de Feridas: da teoria à prática baseada em evidências. Editora Rubio.

  • Ferreira, A. M. D., & Silva, D. M. G. V. (2021). Feridas: aspectos clínicos e cuidados de enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem.

  • Oliveira, B. F. et al. (2023). Classificação de feridas e uso de coberturas na prática de enfermagem. Revista Enfermagem Atual.