Brasil se torna referência mundial em doação de medula óssea: coleta pela veia facilita e salva mais vidas

A evolução da doação de medula óssea

A doação de medula óssea sempre foi vista como um gesto de altíssima importância, já que salva vidas no tratamento de leucemias, linfomas, doenças do sangue e imunodeficiências. Tradicionalmente, o método de coleta exigia punção direta na medula dos ossos, um procedimento invasivo, demorado, com riscos e desconfortos para o doador.

Agora, com a adoção da coleta de células-tronco pela veia — chamada de aférese — o Brasil aprimora sua capacidade de doação, tornando-se referência global em registros de doadores voluntários. Esse avanço técnico facilita o encontro de doadores compatíveis com rapidez e menos sofrimento, além de incentivar mais pessoas a participarem desse sistema de saúde pública.

Como funciona a coleta pela veia

Na prática, o método de aférese consiste em coletar sangue do doador por uma veia, passar esse sangue por uma máquina separadora de células-tronco hematopoéticas, reter essas células e devolver o restante ao corpo. É algo parecido com uma doação de sangue, mas demanda equipamento especializado, equipe treinada e preparação prévia do doador com medicamentos que mobilizam as células-tronco da medula para a circulação sanguínea. Em comparação ao método antigo, esse procedimento reduz a dor, diminui a permanência hospitalar, evita complicações e permite que o doador retorne mais rapidamente às suas atividades.

O papel da enfermagem na doação de medula

Para os profissionais de enfermagem, esse avanço traz novos desafios e responsabilidades. Nos hemocentros, é preciso garantir estrutura para a coleta de aférese: punção venosa adequada, monitoramento constante, equipamentos específicos e orientação ao doador. O enfermeiro deve acompanhar todo o processo, desde a triagem clínica até o pós-doação, identificando sinais de desconforto e garantindo que o doador receba as informações necessárias para uma recuperação segura. Também cabe à enfermagem orientar sobre jejum, hidratação e uso de medicamentos que possam interferir no procedimento.

Brasil como referência mundial

O Brasil já é o terceiro país do mundo em número de doadores cadastrados no REDOME (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea), ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha. Esse número expressivo aumenta as chances de pacientes encontrarem um doador compatível, mas também exige que os dados sejam constantemente atualizados. Muitos transplantes são prejudicados porque os doadores mudam de endereço e não mantêm seus cadastros atualizados. É fundamental que enfermeiros e equipes de saúde reforcem a importância de manter essas informações corretas, garantindo que vidas não sejam perdidas por falhas de contato.

Exemplos práticos do impacto

No dia a dia hospitalar, imagine um paciente diagnosticado com leucemia que precisa urgentemente de um transplante. Com o cadastro atualizado, o REDOME pode identificar rapidamente um doador compatível e acionar o processo. O enfermeiro atua não só na logística, mas também no suporte emocional, explicando o procedimento ao doador e monitorando o transporte das células-tronco. Em campanhas comunitárias, a enfermagem também tem papel essencial em explicar como funciona a doação pela veia, mostrando que é um procedimento simples e seguro, capaz de aumentar o número de voluntários.

Dicas para quem deseja doar

Quem pensa em doar deve conhecer os requisitos básicos: ter boa saúde, idade entre 18 e 35 anos no momento do cadastro e não apresentar doenças hematológicas ou infecciosas graves. É fundamental manter o cadastro atualizado no REDOME e buscar informações no hemocentro mais próximo. Antes da doação, recomenda-se boa hidratação, alimentação equilibrada e descanso adequado, medidas que facilitam o procedimento e reduzem possíveis efeitos adversos. No pós-doação, cuidados simples como repouso, observação de sinais de desconforto e comunicação com a equipe de saúde garantem segurança e bem-estar ao doador.

Conclusão

A possibilidade de realizar a coleta de células-tronco pela veia, somada ao destaque do Brasil no cenário mundial de doadores, representa um marco histórico. Esse avanço amplia o número de vidas salvas, reduz riscos e melhora a experiência do doador. Para a enfermagem, abre-se um campo ainda mais amplo de atuação, desde o cuidado clínico até a promoção de campanhas educativas. O fortalecimento dessa prática dependerá do investimento em infraestrutura, capacitação profissional e conscientização da população sobre a importância desse ato de solidariedade que transforma e salva vidas.

Referências
  • Instituto Nacional do Câncer (INCA) – REDOME: Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea.

  • Ministério da Saúde – Diretrizes sobre transplante de medula óssea no Brasil.

  • Organização Mundial da Saúde (OMS) – Transplante de células-tronco hematopoéticas: recomendações globais.