Aumento de Óbitos no Frio: Entenda a Relação com Infarto e AVC


Com a chegada das temperaturas mais baixas, é comum observar um aumento significativo nas internações hospitalares e nos índices de mortalidade, especialmente entre pessoas idosas e com doenças crônicas. Um dos principais motivos dessa elevação é o crescimento no número de casos de infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular cerebral (AVC) — duas das principais causas de morte no Brasil e no mundo.
Mas por que o frio tem esse impacto tão direto na saúde cardiovascular e neurológica? Este artigo explora as causas fisiológicas, os fatores de risco agravantes no inverno e as medidas preventivas que podem salvar vidas.
O impacto do frio no organismo: uma resposta de sobrevivência
O corpo humano, ao ser exposto ao frio, sofre uma série de alterações fisiológicas como forma de proteção:
Vasoconstrição periférica: para conservar o calor, os vasos sanguíneos da pele e extremidades se contraem, redirecionando o sangue para órgãos vitais. Esse processo aumenta a pressão arterial e sobrecarrega o coração.
Aumento da viscosidade do sangue: em temperaturas mais baixas, o sangue tende a ficar mais espesso, elevando o risco de formação de coágulos.
Maior liberação de catecolaminas: substâncias como adrenalina e noradrenalina aumentam a frequência cardíaca e a pressão arterial, criando um ambiente propício para eventos cardíacos e neurológicos.
Redução da atividade física: o frio pode desencorajar a prática de exercícios e agravar o sedentarismo, um fator de risco para doenças cardiovasculares.
Infecções respiratórias: gripes e pneumonias são mais comuns no inverno e também elevam o risco cardiovascular, especialmente em idosos.
Frio e infarto: uma ligação direta e perigosa
Diversos estudos científicos mostram que o risco de infarto aumenta significativamente durante o inverno. Um levantamento publicado no British Medical Journal (BMJ) revelou que uma queda de 1ºC na temperatura média diária está associada a um aumento de 2% a 3% nas hospitalizações por infarto.
Como o frio favorece o infarto?
Aumento da pressão arterial;
Estreitamento das artérias coronárias;
Estresse térmico que exige maior esforço do coração;
Maior ativação plaquetária e risco de trombos.
Grupos mais vulneráveis:
Idosos;
Pacientes com hipertensão arterial;
Pessoas com histórico de infarto ou insuficiência cardíaca;
Diabéticos;
Tabagistas.
AVC no inverno: o cérebro também sofre com o frio
O acidente vascular cerebral (AVC) também apresenta aumento de incidência nos meses mais frios. A fisiopatologia é parecida com a do infarto, já que muitos AVCs são de origem isquêmica, causados por obstrução de artérias cerebrais.
Mecanismos agravantes no frio:
Hipertensão descontrolada (principal causa de AVC);
Aumento da coagulação sanguínea;
Ritmos cardíacos alterados, como a fibrilação atrial;
Desidratação silenciosa, que pode espessar o sangue.
Um estudo realizado pela Universidade de Harvard demonstrou que o risco de AVC isquêmico aumenta de forma significativa em temperaturas abaixo de 15°C, especialmente quando há mudanças bruscas de clima.
Outras causas de aumento de óbitos no inverno
Além de infartos e AVCs, o frio pode agravar outras condições de saúde e aumentar a mortalidade:
Doenças respiratórias (como DPOC e pneumonia);
Descompensações de doenças crônicas;
Hipotermia em populações vulneráveis;
Maior incidência de quedas em idosos, com fraturas graves.
Prevenção: como proteger a saúde nos dias frios
A prevenção é a principal estratégia para reduzir mortes durante o inverno. Aqui estão algumas recomendações baseadas em evidências:
✅ Controle da pressão arterial e da glicemia;
✅ Uso adequado de roupas quentes e ambientes bem aquecidos;
✅ Vacinação contra gripe e COVID-19, especialmente para idosos;
✅ Manutenção da atividade física, mesmo em ambiente fechado;
✅ Hidratação adequada mesmo nos dias frios;
✅ Não suspender medicamentos sem orientação médica;
✅ Evitar exposição ao frio intenso logo ao acordar — horários com maior risco de infarto e AVC.
Conclusão
O frio é mais do que um desconforto climático — é um fator de risco real para agravos graves à saúde, como infarto e AVC. Entender os mecanismos fisiológicos por trás desse aumento de mortalidade nos meses frios é essencial para que profissionais de saúde, cuidadores e a população em geral adotem medidas de prevenção eficazes.
A atuação da enfermagem, nesse cenário, é fundamental: tanto na educação em saúde, quanto na identificação precoce de sinais de alerta e no acompanhamento de pacientes com doenças crônicas. Promover hábitos saudáveis, monitorar sinais vitais e orientar sobre os riscos do frio são estratégias que podem salvar vidas.
Referências
Ministério da Saúde (Brasil). Doenças do coração matam mais no inverno. Portal Gov.br - Saúde. Disponível em: https://www.gov.br/saude. Acesso em: 08 jun. 2025.
Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Riscos cardiovasculares aumentam no inverno: saiba como se proteger. Disponível em: https://www.portal.cardiol.br. Acesso em: 08 jun. 2025.
Bhaskaran, K. et al. Ambient temperature and risk of myocardial infarction: a time series study. British Medical Journal (BMJ), v. 341, 2010. DOI: 10.1136/bmj.c3823.
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Clima e Saúde: como o frio afeta o coração e o cérebro. Disponível em: https://portal.fiocruz.br. Acesso em: 08 jun. 2025.
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