Atuação da Enfermagem no Protocolo de Manchester: Como Aplicar a Classificação de Risco na Prática


A classificação de risco é uma das etapas mais importantes no atendimento de urgência e emergência. No Brasil, o Protocolo de Manchester é amplamente utilizado para organizar o fluxo de pacientes nos serviços de pronto atendimento, garantindo que os casos mais graves sejam atendidos com prioridade.
A enfermagem desempenha papel central nesse processo, sendo responsável pela avaliação inicial, identificação dos sinais e sintomas e aplicação correta do protocolo.
O que é o Protocolo de Manchester?
Criado no Reino Unido em 1997, o Manchester Triage System (MTS) é um método de triagem clínica estruturada que classifica os pacientes de acordo com o nível de urgência, utilizando uma escala de cores para definir o tempo máximo de espera.
O sistema foi adaptado ao contexto brasileiro e é hoje amplamente adotado em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), hospitais públicos e privados, padronizando o atendimento e reduzindo riscos de atrasos em casos graves.
A escala é dividida em cinco níveis de prioridade, representados por cores:
🔴 Vermelho – Emergência: atendimento imediato, risco iminente de morte (ex.: parada cardiorrespiratória, politrauma, convulsões).
🟠 Laranja – Muito urgente: atendimento em até 10 minutos (ex.: dor torácica intensa, dispneia grave).
🟡 Amarelo – Urgente: atendimento em até 60 minutos (ex.: febre alta persistente, dor moderada, crise hipertensiva sem sinais de gravidade).
🟢 Verde – Pouco urgente: atendimento em até 120 minutos (ex.: dor leve, pequenos ferimentos).
🔵 Azul – Não urgente: atendimento em até 240 minutos, podendo ser direcionado para atenção primária (ex.: troca de curativo, sintomas leves e crônicos).
O papel da enfermagem na classificação de risco
A enfermagem é a porta de entrada dos serviços de urgência e emergência e, portanto, o primeiro contato do paciente com o sistema. O enfermeiro que atua na triagem precisa ter olhar clínico apurado, raciocínio rápido e conhecimento técnico para avaliar o estado do paciente em poucos minutos.
Durante a classificação, o profissional coleta informações essenciais, como:
Queixa principal e tempo de evolução;
Sinais vitais (PA, FC, FR, temperatura e saturação de O₂);
Histórico clínico e uso de medicamentos;
Avaliação visual e comportamental do paciente.
Com base nesses dados, o enfermeiro seleciona o fluxograma clínico correspondente (como dor torácica, dificuldade respiratória, trauma, entre outros) e define o discriminador que indicará a cor de prioridade.
Como aplicar o Protocolo de Manchester na prática
Na rotina das emergências, a triagem é feita com auxílio de software de apoio, fichas impressas ou sistemas integrados. O enfermeiro deve seguir uma sequência lógica de avaliação, evitando julgamentos subjetivos e mantendo a padronização do atendimento.
Exemplo prático:
Um paciente chega com queixa de dor no peito iniciada há 20 minutos, acompanhada de sudorese e dispneia leve. Após medir os sinais vitais, o enfermeiro observa pressão arterial de 160x100 mmHg e frequência cardíaca de 110 bpm. Nesse caso, o fluxo de “dor torácica” é aplicado e o discriminador “dor torácica aguda” indica classificação laranja (muito urgente).
Outro exemplo comum é o paciente com dor de garganta e febre baixa. Sem sinais de alarme e com bom estado geral, o discriminador indicará classificação verde (pouco urgente), podendo aguardar atendimento ou ser encaminhado para a atenção primária.
Benefícios do Protocolo de Manchester
A aplicação correta do protocolo garante:
Atendimento prioritário aos casos graves, salvando vidas;
Organização do fluxo de pacientes, reduzindo o tempo de espera;
Segurança para profissionais e usuários, com decisões baseadas em evidências;
Padronização do cuidado, independente do local ou profissional que realiza a triagem.
Além disso, o protocolo contribui para diminuir conflitos entre usuários e equipes de saúde, já que os critérios de atendimento são objetivos e transparentes.
Desafios enfrentados pelos profissionais de enfermagem
Embora o protocolo traga grandes benefícios, sua aplicação prática apresenta desafios. Entre eles:
Alta demanda e superlotação nas unidades de emergência;
Falta de recursos físicos e humanos para atendimento imediato;
Dificuldade em lidar com a insatisfação dos pacientes classificados com prioridade baixa;
Necessidade de educação permanente e treinamento contínuo dos profissionais.
A atuação segura e eficiente exige atualização constante e apoio institucional, garantindo que o enfermeiro tenha condições adequadas para exercer sua função com qualidade.
Conclusão
O Protocolo de Manchester é uma ferramenta indispensável para o atendimento seguro e ágil nas unidades de urgência e emergência. A atuação da enfermagem é determinante nesse processo, pois cabe ao enfermeiro identificar os sinais de gravidade, aplicar os critérios de classificação e garantir que o paciente receba o atendimento adequado no tempo certo.
Mais do que um método de triagem, o protocolo representa o compromisso ético e técnico da enfermagem com a vida, fortalecendo a qualidade e a humanização no atendimento.
Referências
Ministério da Saúde. Manual de Acolhimento e Classificação de Risco nos Serviços de Urgência. Brasília: MS, 2021.
Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução nº 423/2012: Regulamenta a atuação do enfermeiro na classificação de risco.
Manchester Triage Group. Emergency Triage. 3ª ed. Oxford: Wiley-Blackwell, 2014.
Organização Mundial da Saúde (OMS). Emergency Care Systems Framework. Geneva: WHO, 2019.
Conselho Federal de Enfermagem. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Brasília: COFEN, 2023.
