As 10 Doenças Mais Notificadas no Brasil e o Papel da Enfermagem no Controle Epidemiológico


A notificação compulsória de doenças é uma ferramenta essencial no combate e controle de agravos de saúde pública. Por meio da coleta de dados epidemiológicos confiáveis, o Sistema Único de Saúde (SUS) pode planejar e executar ações de vigilância, prevenção e controle. Nesse contexto, o profissional de enfermagem é protagonista na linha de frente da identificação, registro, orientação e encaminhamento dos pacientes.
A seguir, detalhamos as 10 doenças mais notificadas no Brasil com base nos dados mais recentes do Ministério da Saúde, e explicamos o papel estratégico da enfermagem em cada uma.
1. Dengue
A dengue é uma arbovirose causada por um dos quatro sorotipos do vírus DENV, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Os surtos geralmente ocorrem em períodos de calor e chuva, principalmente em áreas urbanas.
Principais sintomas:
Febre alta
Dor de cabeça
Dor no corpo e nas articulações
Náuseas e manchas vermelhas na pele
Atuação da enfermagem:
Triagem de casos suspeitos com foco em sinais de alarme (dor abdominal, vômitos persistentes, sangramentos).
Coleta de exames laboratoriais e monitoramento da hidratação.
Educação em saúde sobre eliminação de criadouros e reconhecimento dos sintomas precoces.
2. Sífilis (Adquirida, Gestacional e Congênita)
A sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum. Sua forma gestacional pode levar a graves complicações para o feto, incluindo morte intrauterina ou sífilis congênita.
Principais sintomas:
Lesões genitais indolores (cancro duro)
Manchas pelo corpo e palmas das mãos/pés (fase secundária)
Complicações neurológicas (fase terciária, se não tratada)
Atuação da enfermagem:
Realização de testes rápidos em unidades básicas e maternidades.
Administração de penicilina benzatina nos casos indicados.
Aconselhamento e rastreio de parceiros sexuais.
Acompanhamento de gestantes para evitar a transmissão vertical.
3. Hepatites Virais B e C
Doenças inflamatórias do fígado causadas por vírus com transmissão por sangue e fluidos corporais. Muitas vezes são assintomáticas e diagnosticadas tardiamente.
Principais sintomas:
Icterícia (olhos e pele amarelados)
Cansaço
Urina escura
Náuseas e dor abdominal
Atuação da enfermagem:
Oferta de testagem rápida em unidades de saúde e campanhas.
Encaminhamento para confirmação diagnóstica e início do tratamento.
Aconselhamento sobre medidas preventivas, como uso de preservativos e não compartilhamento de objetos perfurocortantes.
4. Tuberculose
Causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, é transmitida pelo ar e afeta principalmente os pulmões.
Principais sintomas:
Tosse por mais de 3 semanas
Sudorese noturna
Perda de peso
Febre vespertina
Atuação da enfermagem:
Identificação de sintomáticos respiratórios durante consultas e visitas domiciliares.
Realização de baciloscopia e testes rápidos moleculares.
Supervisão do Tratamento Diretamente Observado (TDO).
Orientações sobre adesão ao tratamento e isolamento respiratório.
5. COVID-19
Doença respiratória causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, com impacto global. Apesar da redução de casos graves, ainda é de notificação obrigatória.
Principais sintomas:
Febre, tosse, dor de garganta
Falta de ar
Perda de olfato e paladar
Sintomas gastrointestinais
Atuação da enfermagem:
Testagem (antígeno e PCR) e identificação precoce.
Isolamento de casos suspeitos ou confirmados.
Administração de vacinas contra COVID-19.
Monitoramento de sintomas e evolução clínica.
6. Influenza
Vírus respiratório com potencial para surtos sazonais e agravamento em idosos, gestantes e imunocomprometidos.
Principais sintomas:
Febre alta súbita
Dor muscular intensa
Tosse seca
Mal-estar generalizado
Atuação da enfermagem:
Campanhas de vacinação contra Influenza com foco nos grupos prioritários.
Identificação de casos graves (Síndrome Respiratória Aguda Grave - SRAG).
Educação em saúde sobre medidas de higiene respiratória e etiqueta da tosse.
7. HIV/AIDS
Doença crônica causada pelo vírus da imunodeficiência humana, com evolução para AIDS caso não tratada. A testagem precoce e adesão ao tratamento são fundamentais.
Principais sintomas:
Febre persistente
Perda de peso inexplicada
Infecções recorrentes
Lesões orais e fadiga
Atuação da enfermagem:
Testagem rápida e sigilosa com aconselhamento.
Encaminhamento para unidades de referência para início do tratamento antirretroviral (TARV).
Acompanhamento da adesão ao tratamento e monitoramento de carga viral.
8. Leishmaniose (Tegumentar e Visceral)
Doenças parasitárias transmitidas por flebotomíneos. A visceral afeta órgãos internos e pode ser fatal se não tratada.
Principais sintomas:
Lesões de pele que não cicatrizam (tegumentar)
Febre, aumento do baço e fígado, emagrecimento (visceral)
Atuação da enfermagem:
Identificação e notificação de casos suspeitos em regiões endêmicas.
Orientações sobre uso de repelentes e proteção contra insetos.
Apoio ao tratamento ambulatorial e encaminhamento de casos graves.
9. Zika Vírus
Transmitido pelo Aedes aegypti, o vírus zika ganhou notoriedade pela relação com casos de microcefalia em recém-nascidos de mães infectadas.
Principais sintomas:
Febre baixa
Manchas avermelhadas pelo corpo
Conjuntivite não purulenta
Dor muscular e nas articulações
Atuação da enfermagem:
Identificação de gestantes com sinais de infecção.
Encaminhamento para acompanhamento pré-natal de alto risco.
Orientação sobre proteção individual contra picadas de mosquito.
10. Chikungunya
Também transmitida pelo Aedes aegypti, tem como principal característica a dor articular intensa e prolongada.
Principais sintomas:
Febre alta
Dor intensa nas articulações
Inchaço nas mãos e pés
Fadiga
Atuação da enfermagem:
Reconhecimento clínico precoce e notificação imediata.
Acompanhamento dos pacientes com dor crônica pós-infecção.
Participação em campanhas de combate ao vetor.
Conclusão
O enfermeiro é um elo entre o sistema de saúde e a comunidade. Sua atuação vai muito além do cuidado assistencial: ele é essencial na vigilância epidemiológica, identificando, notificando, orientando e prevenindo a disseminação de doenças.
Capacitação contínua, conhecimento das doenças de notificação compulsória e uso correto das ferramentas do SUS (como o e-SUS e o SINAN) são instrumentos que fortalecem o combate aos agravos em saúde pública.
Referências
Ministério da Saúde. Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças – 2024.
Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Boletins Epidemiológicos.
DATASUS. Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Diretrizes para atuação na vigilância.
Organização Mundial da Saúde (OMS). Guias e protocolos técnicos.