Anvisa suspende lote de furosemida após detecção de material semelhante a caco de vidro em ampola

Uma medida da Anvisa está colocando em alerta os hospitais, clínicas e profissionais da saúde em todo o Brasil: foi identificada a presença de material estranho, semelhante a cacos de vidro, em ampolas de um lote de furosemida injetável, um diurético amplamente utilizado em ambiente hospitalar.

A partir desse achado, o lote foi suspenso quanto à fabricação, comercialização, distribuição e uso. Para a enfermagem, essa situação requer atenção redobrada — tanto para garantir a segurança do paciente quanto para seguir os protocolos corretos diante desse tipo de desvio de qualidade. Neste artigo, vamos explorar o que se sabe até agora, os potenciais riscos, o que os profissionais devem fazer e como esse tipo de incidente pode ser evitado.

O que aconteceu — cronologia do caso

A Vigilância Sanitária Municipal de Jaraguá do Sul (Santa Catarina) identificou, em 14 de julho de 2025, ampolas do lote de número 24111911 da furosemida injetável (10 mg/ml, embalagens com 100 ampolas de 2 ml) da empresa Hypofarma, contendo fragmentos com aparência de vidro.

Após análise, a Anvisa publicou no Diário Oficial da União a decisão de suspender o uso desse lote, proibindo sua distribuição e comercialização. O prazo de validade desse lote é até novembro de 2026.

Furosemida — uso clínico e importância hospitalar

A furosemida é um diurético de ação potente, utilizado para mobilização de líquidos em casos de edemas, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, doenças renais ou hepáticas com retenção de líquidos. Nos hospitais, é um medicamento de uso frequente, especialmente em unidades de terapia intensiva, emergências, enfermarias de nefrologia, cardiologia, cuidados pós-operatórios. Isso significa que qualquer desvio de qualidade pode ter impacto rápido e grave, considerando pacientes que já estão fragilizados ou com múltiplas comorbidades.

Riscos potenciais à saúde do paciente

Quando há presença de partículas estranhas como cacos ou fragmentos sólidos dentro de ampolas injetáveis, diversos riscos podem emergir:

  • Reações locais imediatas: injeção pode causar dor, inflamação, trombose ou irritação no local da injeção.

  • Risco de embolia ou obstrução vascular: fragmentos menores podem entrar na corrente sanguínea, obstruindo vasos, especialmente em pacientes com fragilidade vascular.

  • Infecção: embora o material suspeito possa não estar contaminado microbianamente, há possibilidade de contaminação na fabricação ou manipulação, aumentando risco de infecção sistêmica, inclusive em pacientes imunocomprometidos.

  • Complicações graves em pacientes críticos: em pacientes com função renal alterada ou já com falência de múltiplos órgãos, qualquer complicação adicional pode agravar o quadro clínico, demandando intervenções mais complexas.

O que deve fazer o profissional de enfermagem diante da situação

Diante desse alerta, enfermeiros e técnicos de enfermagem devem seguir uma série de passos práticos para garantir segurança:

  1. Verificar estoque rapidamente: identificar se há unidades do lote 24111911 nos hospitais, enfermarias, ambulatórios ou clínicas sob sua responsabilidade.

  2. Interromper uso imediato: se encontrar ampolas do lote afetado, suspender o uso desse produto até nova orientação.

  3. Comunicar às instâncias responsáveis: informar ao farmacêutico da instituição, à gerência de farmácia, ao setor de compras, à direção de hospital, e à Vigilância Sanitária local ou institucional.

  4. Recolher ou isolar unidades: garantir que essas ampolas sejam isoladas fisicamente para evitar uso inadvertido, identificadas claramente como “lote suspenso – não usar”.

  5. Registrar o incidente: realizar registro interno de evento adverso ou desvio de qualidade, com dados como número de lote, data de recebimento, número de unidades, local de armazenamento.

  6. Orientar equipe sobre sintomas de reação: por se tratar de produto injetável contaminado ou com partícula, preparar equipe para identificar reações adversas e agir rápido.

Prevenção e controle de qualidade — papel da enfermagem

Para evitar que situações como essa se repitam, profissionais de enfermagem têm papel essencial em vários elos do processo:

  • Armazenamento e inspeção visual: sempre que medicamentos injetáveis chegarem, inspecionar frascos/ampolas quanto a integridade do vidro, presença de partículas, aparência do líquido (opacidade, turbidez, cor).

  • Boas práticas de recebimento: conferência no ato de recebimento, rejeitar ou devolver lotes com aspecto duvidoso ou ampolas danificadas.

  • Conservação adequada: assegurar que temperatura, luz e manuseio sigam recomendações do fabricante.

  • Treinamento contínuo: capacitar equipe para a identificação de desvios de qualidade, conhecimento sobre legislação sanitária, comunicação de incidentes.

  • Documentação e rastreabilidade: manter registro completo de lotes, fornecedores, datas de recebimento e uso, para facilitar eventuais averiguações ou recolhimentos.

Conclusão

A suspensão de uso do lote de furosemida pela Anvisa devido à presença de material parecido com caco de vidro é um alerta importante para todos os profissionais de saúde, especialmente de enfermagem. A segurança do paciente não admite descuidos: desde a chegada do medicamento até sua administração, todos os passos devem ser gerenciados com rigor. O profissional de enfermagem atua como linha de frente nesse controle — você pode e deve intervir, denunciar, orientar sua equipe e garantir que protocolos sejam seguidos. Situações como essa reforçam a importância da vigilância sanitária interna, da qualidade no recebimento de medicamentos e da responsabilidade profissional no cuidado direto ao paciente.

Referências
  • Anvisa — decisão de recolhimento do lote 24111911 da furosemida injetável após detecção de material estranho semelhante a vidro.

  • Exame — matéria: “Anvisa suspende diurético bastante usado em hospitais após suspeita de presença de caco de vidro.”

  • Metropóles — “Caco de vidro: saiba mais sobre diurético suspenso pela Anvisa”